O Homem afirma-se como um ser cultural, intemporal, que se situa porém, no espaço e no tempo e que se congrega e agrega para cooperar e se perpetuar. Sendo um ser gregário, no seio das sociedades humanas manifestam-se, permanentemente, dois princípios – o individual e o colectivo, em que o esforço individual aparece como indispensável para o progresso do agregado, onde cada interesse particular é servido pelo enriquecimento das reservas tradicionais da civilização. O Homem possui uma cultura que modifica e transmite de geração em geração, vivendo em sociedade, ela também responsável pela dinâmica entre indivíduos, construindo, num devir contínuo, a sua cultura, isto é, tudo o que recebeu, transmite ou inventa. A herança cultural é transmitida mas a cultura não permanece estática. De facto, verificando-se que a cultura é um dado universal, pois não há homem sem cultura, nem cultura sem sociedade, verifica-se também que os homens não acrescentam coisas à Natureza (O Homem é também Natureza), da mesma maneira: Cada grupo, cada povo, cada sociedade, mercê de um conjunto de causas várias, entre as quais as histórias e ambientais são essenciais, possui as suas obras e a sua forma peculiar de acrescentar, de transformar ou de transmitir cultura. Em suma, a cultura, como um todo, é uma resposta às necessidades totais da sociedade que a produziu. A Música - expressão de cultura A música pode ser considerada como um dos universais da cultura. Entende-se, hoje em dia, que as formas elaboradas por uma cultura para exprimir a sua criatividade musical vão desde a música vocal à música instrumental, desde a expressão monofónica à expressão polifónica, dos solos aos conjuntos mais ou menos numerosos de cantores e de músicos. Mas a música existe porque alguém a executa, a reproduz, a concretiza, num espaço e tempo povoados por pessoas que entre si estabelecem laços de pertença de que essa música é peça fundamental. No caso vertente, falamos não de uma peça ou peças musicais, mas sim de um grupo de cidadãos que dá corpo à Sociedade Filarmónica de Lalim, a “Banda” ou a “Música” como carinhosamente é conhecida entre os elementos da comunidade lalinense. Parece-nos ter sido um processo semelhante o que terá ocorrido em Lalim, no que respeita à existência da Banda de Lalim, que, por imperativos legais se constitui em Associação, com estatutos publicados no Diário da República em 25 de Outubro de 1981, com a designação de Sociedade Filarmónica de Lalim. De facto, no seio da comunidade lalinense, a música faz parte do imaginário dos que aí nasceram, cresceram e vivem, tendo como referência concreta a “Banda”, que ouve nos ensaios que regularmente faz, nos concertos que promove na comunidade e ainda com o contacto dircto com a sua Escola de Música que tem funcionado de acordo com um protocolo estabelecido entre Sociedade Filarmónica de Lalim e a Junta de Freguesia de Lalim. Podemos mesmo dizer que, em Lalim, o sentido estético-musical se desenvolve e se forma num contacto directo com os sons da “Banda”. A Banda está presente nas ocasiões mais significantes da vida colectiva de Lalim – nas festas anuais, religiosas e profanas, nas cerimónias de inauguração de equipamentos sociais, funcionando como um elemento cultural fundamental, cumprido a sua função comunicativa no seio da comunidade, constituindo, por isso, um significativo sistema sócio-cultural. A SOCIEDADE FILARMÓNICA DE LALIM – um pouco de história Em Lalim, a sua “Banda” faz parte da tradição. Os primeiros documentos escritos que revelam a existência de um grupo de habitantes que, regularmente, com vozes e instrumentos de sopro, acompanhava cerimónias religiosas, nomeadamente funerais, remontam a 1722 e foram encontrados no espólio documental pertencente à Igreja Matriz de Lalim, identificados pelo Senhor Dr. Cónego Manuel Gonçalves da Costa, digno pároco de Lalim de 1955 a 1977. Acompanhando as necessárias transformações que sofrem todas as comunidades, também a Banda de Lalim acompanhou as exigências dos tempos, quer em termos das opções musicais, quer em termos do modo com se apresenta, funcionando sempre como uma escola de valores colectivos. Com uma formação semelhante à que apresenta hoje, apenas com menos elementos e, necessariamente com um leque de instrumentos mais reduzidos, podemos dizer que, em Lalim, existe desde meados do séc.19, uma Banda Filarmónica, constituindo, desde então, um grupo particularmente interessante para o estudo e compreensão do que é a comunidade lalinense.
Última Atualização: 19/04/2022